sexta-feira, 17 de abril de 2009

A Memória não “brinca em serviço”!

Caro Lobão, vou sossegar o teu espírito.

Para quem não esteve presente na Sessão da Network sobre comunicação cá vai um breve enquadramento do que se passou:

O Eduardo propôs-nos uma actividade (brilhantemente concebida, como veremos) a realizar a pares. A um dos elementos do grupo foi dado o texto A e ao outro o B, ambos sobre a comunicação não verbal diferindo apenas nos elementos que continham e foi solicitado que retivéssemos o conteúdo em breves minutos. Seguidamente foi pedido que quem ficou com o texto A relatasse ao parceiro o que era dito no seu texto. Quem tinha o texto B (como o Lobão) partiu do princípio que seguidamente teria de enunciar o que leu... Só que a tarefa seguinte consistia em relatar o que reteve do que o colega lhe disse.


E o Lobo Mau não se lembrava de nada do que ouviu!

Agora uma abordagem Psi ao que se passou:

A informação nova é armazenada na Memória a Curto Prazo (MCP) que tem duas características: a sua capacidade de retenção de informação é limitada (segundo Miller, 7 +-2 itens) e só consegue mantê-la armazenada durante poucos segundos.

Se um conteúdo for considerado relevante, depois de devidamente codificado, passa para a Memória a Longo Prazo (MLP), de capacidade ilimitada e duradoura no tempo.

Só que há informações que estão destinadas a serem esquecidas quando já não forem necessárias e para essas usamos estratégias que nos permitem mantê-las na MCP mais tempo.

Uma forma é a repetição mental (chamada rehearsal) que embora permita manter viva a informação na MCP não permite aumentar a sua capacidade de armazenamento. Como esta será sempre limitada, se entrarem novos itens na MCP vão provocar interferência nos que foram anteriormente armazenados. Quanto mais semelhantes forem os itens, mais forte é este fenómeno. A interferência é, assim, uma de duas causas do fenómeno do esquecimento, fundamental e até absolutamente indispensável para o bom funcionamento da MCP. O tempo é a outra causa, sendo que os dados vão enfraquecendo até que desaparecem da memória.

Mais sossegado, Lobo Mau?

A tarefa a realizar envolvia memorizar um conjunto de ideias em muito pouco tempo. Os participantes partiram do princípio que o objectivo seria conseguir, posteriormente, enunciá-las correctamente. Tendo em conta as particularidades da MCP o mais expectável seria que acontecesse o que veio a acontecer: provavelmente foi usada a repetição mental da informação que a mantém mais tempo em memória. A melhor estratégia para evitar o esquecimento que a interferência da nova informação transmitida pelo parceiro provocaria (ainda para mais muito semelhante à antiga) seria precisamente prestar-lhe o mínimo de atenção possível.

Disse que a actividade foi brilhantemente concebida porque o facto de induzir que a tarefa seria enunciar o conteúdo do texto, o curto período de tempo que foi dado para a memorização, aliado ao facto de ambos os textos serem muito semelhantes constituíram a fórmula de sucesso para que este fenómeno se revelasse tão claramente.

Em síntese, Lobo Mau, a tua memória cumpriu o seu objectivo, funcionou na perfeição. Estas estratégias também teriam funcionado se tivesse sido esse o objectivo da tarefa!

E os nossos objectivos fazem toda a diferença! : )

6 comentários:

  1. Obrigado Cap,

    Realmente estou em paz agora, sinto que uma onda de conhecimento atingiu-me.

    Es grande estas lá.

    Lobo mau a comer sandes dequeijo (ja que nao existe fiambre)

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  2. Brilhante!

    Com um Capuchinho Vermelho assim não há Lobo Mau que resista...


    A adicionar uma questão também de interesse... A nossa capacidade de impor a prioridade do nosso ouvido interno ao externo. Garantindo a capacidade de ouvir-nos a nós (processo de repetição) em vez dos outros.

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  3. Parece-me que a questão do Capuchinho Vermelho e do Lobo Mau pode ser vista de outra forma...
    e tem a ver com essa capacidade de impor a prioridade do nosso ouvido interno ao externo.

    De facto, muitas vezes ouve-se dizer que as mulheres falam demais, o que não deixa de ser verdade. Não há problema, porque o ouvido masculino é selectivo e é das coisas mais maravilhosas que jamais a Natureza concebeu. É como no anúncio da comida para gato.

    Exemplo prático:

    Diz o Capuchinho Vermelho:

    'Esta casa está numa desordem, Amor!
    Tu e eu precisamos de limpar isto.
    As tuas coisas estão espalhadas no chão
    Ainda ficas sem roupas para usar se
    Não as lavares agora!'


    O que o Lobo Mau ouve:

    bla, bla, bla, bla, Amor
    Tu e eu, bla, bla, bla, bla
    bla, bla, bla, bla, no chão
    bla, bla, bla, bla, sem roupas bla, bla, bla, bla, bla, bla, bla, bla, agora!

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  4. Obrigado Sr Obama!! Pela "revolução" pacifica que esta a fazer no Mundo, e que está a alcançar universos nunca antes imaginados. Que conseguisse acabar com Guantanamo, que desse passos firmes para acabar com o conflito na Palestina e com a crispaçao com o Irão ja antecipavamos. Mas que os ventos de mudança levassem o Capuchinho Vermelho a defender o Lobo Mau, nao passaria pela cabeça de ninguem. Neste tempo de Desafios mascarados de Crise, é bom ver que ate no imaginario se podem fazer conciliaçoes. Parabens Capuchinho Vermelho e afinal .. o Lobo ja nao é tao mau!

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  5. Este comentário foi removido pelo autor.

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  6. Pois é, Flecha! Agora os maus da fita são os porquinhos :0)

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