sexta-feira, 10 de julho de 2009

O pensamento positivo pode não ser assim tão positivo...

Foi publicado um artigo no The Times este mês que apresenta o “lado lunar” do pensamento positivo.

Joanne Wood, Professora de Psicologia na Universidade de Waterloo, Canadá, realizou um estudo que demonstra que o pensamento positivo e a repetição de frases do tipo “Eu consigo!”, “Eu sou uma pessoa fantástica!” pode ter efeitos mais negativos do que positivos para pessoas com uma fraca auto-estima.

A repetição de afirmações positivas funciona apenas se vierem reforçar aquilo em que a pessoa já acredita.

Caso contrário, alguém com uma fraca auto-confiança quando diz “Sou uma pessoa encantadora” pode estar a pensar “Bem, nem sempre sou encantadora” ou “Não sou tão encantadora como gostaria de ser”. Estes pensamentos negativos acabam, então, por se sobrepor aos positivos.

Agora aprofundando a justificação Psi:

Quando opiniões, informações ou crenças são incompatíveis entre si provocam dissonância cognitiva. Como é psicologicamente desconfortável manter cognições contraditórias, a pessoa tende a substituir as recém chegadas por outras que “encaixem” nas já existentes.

Festinger defende que existem ainda mais duas formas de se lidar com a dissonância cognitiva: adquirir novas informações ou crenças que aumentem a consonância, ou desvalorizar as crenças que provocam a incompatibilidade.

E é por isto que concordo com a ideia de que pessoas com muito fraca auto-estima necessitam, uma primeira fase, mais de pensamento “construtivo” do que de pensamento positivo (entendido no sentido da verbalização/repetição de frases como as que descrevi).

Nestes casos será trabalhando no domínio do que é possível, um passo de cada vez, que se consegue alcançar o que anteriormente poderia ser entendido como impossível!

2 comentários:

  1. Valeu cupuchinho! Igual a si própria, com contributos de enorme Valor!!! Fantástico.
    Pode ser interessante juntar a este artigo a pirâmide dos níveis neurológicos e procurar entender que a nossa auto-estima está no reflexo da nossa identidade e que, sempre que "trabalhamos" convicções estamos a trabalhar no nível neurológico imediatamente abaixo. Ou seja, a procura de congruência (neste caso a falta dela) podem gerar as referidas dissonâncias cognitivas. Uma outra abordagem às opções apresentadas pode passar por um reconhecimento e reforço da "nova" identidade e procurar que estas novas convicções sejam "coerentes".

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  2. Cá vai a minha contribuição:

    Há dissonância cognitiva sempre que nos apercebemos que as nossas cognições e acções não estão alinhadas. É então que procuramos restabelecer a congruência.

    Por exemplo, imaginem alguém que se acha uma pessoa extremamente atenciosa e vive a sua vida de acordo com essa sua "identidade". Eis, senão quando, se esquece do aniversário da sua mulher! Pum: dissonância cognitiva!!! Esta situação entra claramente em contradição com a imagem que tem de si.

    Pode procurar restabelecer a congruência, por exemplo, sendo especialmente atencioso na semana seguinte (convida-a mais vezes para sair, dá-lhe algumas prendas e até lhe leva o pequeno-almoço à cama)- Há aqui um aumento do n.º ou da importância das cognições consonantes com a sua identidade.

    Por outro lado, pode justificar essa falta como um favor que está a fazer à mulher (que até nem gosta que a lembrem que está mais velha), pelo que ela até lhe estará agradecida - Há aqui uma tentativa de diminuição da importância das cognições dissonantes.

    O nosso "cérebro" é mesmo manhoso.

    No entanto, e embora, possa ser desconfortável, manter sempre a coerência leva-nos a não experimentarmos novos caminhos... Um abanão interior de vez em quando também é saudável e ajuda a crescer.

    "A coerência insensata é o mafarrico das mentes pequeninas" - Emerson.

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